Após ganhar o Leão de Ouro do Festival de Cannes, a campanha da Eletromídia, que viralizou nas redes ao levar totens interativos para fazer companhia a mulheres sozinhas em paradas de ônibus, vai se tornar permanente. A empresa de anúncios eletrônicos em espaços abertos vai instalar letreiros digitais com videochamadas nas cidades de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro.
A expectativa é que os primeiros cem totens previstos comecem a ser instalados no mês que vem. Setenta ficarão em pontos de ônibus da cidade do interior de SP e outros 20 na capital paulista, onde os endereços ainda estão sendo definidos. No Rio, a troca dos painéis tradicionais pelas instalações interativas será em dez das 29 estações do VLT, onde a empresa é concessionária.
O funcionamento das estruturas será semelhante à experiência criada na campanha publicitária “Guarded bus stop” (ou ponto de ônibus vigiado, em tradução livre): sensores vão detectar se uma mulher está sozinha no ponto de ônibus ou VLT no período da noite.
Central com atendentes mulheres
A partir daí, a tela vai oferecer a possibilidade de uma atendente “fazer companhia” através de uma videochamada em tempo real. A versão atualizada, agora chamada de “Abrigo Amigo”, terá uma evolução no projeto.
Para que a iniciativa funcione, uma central de atendimento está sendo montada apenas com atendentes mulheres.
A escolha das estações do VLT que vão receber as instalações interativas teve a ver com os índices de criminalidade na região Central da capital fluminense. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) dão conta de que, de janeiro a maio, 1.012 roubos a transeuntes foram registrados pelas três delegacias da região por onde passam as três linhas do transporte.
Protocolo em caso de flagrante
Guerrero destaca que a empresa está desenvolvendo e discutindo um protocolo de atuação junto com o poder público para o caso de o sistema flagrar alguma tentativa de crime:
– A conversa tem sido boa, há um alinhamento de interesses. Esses protocolos precisam ser desenvolvidos para que o call center dedicado a essa operação tenham protocolos interligados com as secretarias de Segurança Pública. É mais um mecanismo de combate e ação a um eventual episódio de assédio, por exemplo.
– O projeto tem um custo maior de tecnologia, manutenção, além da própria criação do call center. Tudo isso está sendo precificado e vamos absorver através do patrocínio das marcas, mas (se se tornar parte das futuras concessões), seria uma grande transformação do setor e da dinâmica das cidades – defende.
150 chamadas por noite
A campanha da Eletromídia foi lançada há três semanas. Para destacar a insegurança sentida por mulheres ao circular pelas ruas, a peça cita uma pesquisa dos institutos Locomotiva e Patrícia Galvão de que 68% das mulheres brasileiras têm muito medo de sair sozinha à noite no bairro onde moram.
A experiência substituiu cinco mubs tradicionais da marca na cidade de Campinas por instalações com webcam, microfone e acesso à internet. Quando o sensor percebia uma mulher sozinha no espaço, uma atendente remota aparecia na tela para ficar conversando com elas e as acompanhando até que o transporte chegasse.